segunda-feira, 13 de abril de 2015
O trabalho me liberta ou me escraviza ?
Não gosto de trabalhar. Portanto, o trabalho me escraviza ! Pronto. Falei.
Não finjo que gosto de trabalhar. Meus colegas e minha família sabem que não gosto de trabalhar. E sei que não sou o único a pensar assim. Mas poucos tem a coragem de falar. Caso não queira continuar a leitura deste texto, eu te entenderei. Tchau.
Você ainda está aí ? Então vou te explicar melhor.
Dia 1º de Maio está chegando: o dia do trabalho. E quem tem meu Whatsapp, se surpreende com meu status: Eu não gosto de trabalhar ! É comum eu ouvir: "Mas como assim Well ? "
Gente, não gostar de trabalhar é algo muito comum de acontecer. Se no século XVI eu dissesse: que o deus que a Igreja Católica acredita me escraviza, provavelmente eu seria queimado na fogueira. No século XXI muitos criaram para si outro deus: o trabalho.
Neste mundo que vivemos, o trabalho virou algo portador de um fim em si mesmo. Você trabalha porque precisa. E eu trabalho porque também preciso ! A menos que você herdou muitos bens ou ganhou na loteria rs.
Porque estou falando disso com você ?
Inicialmente, lá nos idos dos séculos XVII até o XIX, isso não era normal, de forma que foram necessários, novamente, assassinatos, torturas e perseguições, para que fosse aceita a férrea disciplina do trabalho, a privatização da terra e das fábricas e a conversão dos camponeses ligados à terra em mão-de-obra barata, disciplinada e obediente. Exatamente como acontece hoje !
O ponto central da minha crítica é o seguinte: trabalhamos, trabalhamos e trabalhamos pra gerar acumulo de dinheiro (e isso acontece tanto nas sociedades capitalistas quanto nas socialistas). E pronto! A ligação desse nosso trabalho com nossas reais necessidades não importa em nada! A roda da economia tem que continuar girando ! Pense nisso.
Ahhhh...se fosse diferente pra mim. Meu sonho seria 6 horas de trabalho, 8 de lazer e 10 horas durmindo ! Mas... enquanto esse dia não chega, me matriculei em um curso de licenciatura. Isso mesmo! Quero muito ensinar História. Ou seja, procurei algo que gosto de fazer e não vou desistir. O que não deve é se deixar levar pela preguiça. Precisamos nos ocupar com um trabalho que nos satisfaça, nos realize e nos faça crescer tanto pessoal quanto profissionalmente.
Um dos meus professores recomendou a leitura de Os trabalhos e os dias do poeta Hesíodo. Também traduzido para o português como As Obras e os Dias. É um poema de de 828 versos que aborda duas verdades gerais: o trabalho é o destino de toda pessoa, e aqueles que estiverem dispostos a trabalhar sobreviverá. Hummm.....tudo haver comigo.
A obra além de conter conselhos e recomendações, prescrevendo uma vida de trabalho honesto, atacando a ociosidade e juízes injustos, bem como a prática da usúria. O poema fala do trabalho como fonte de todo o bem, na medida que tanto os deuses quanto os homens desprezam os ociosos. Vish...nessa eu me dei mal.
Mas calma aí. Eu perco 4 horas diárias da minha vida apenas indo e voltando do meu trabalho. Chegando lá trabalho 12 horas seguidas e tenho que achar isso normal ? Essa é uma lógica do Estado e dos Sindicatos dos trabalhadores que dizem proteger meus direitos. Mas não engulo essa não.
Pense comigo. As sociedades indígenas clássicas, sem Estado, não conhecem o conceito de fome.
Por mais que, lendo esse texto, continue me achando um bobo, tenho certeza de que no íntimo você sente que o trabalho não dignifica o home. Pelo contrário, o escraviza. Já imaginou a sua vida sem essa prisão ? Todos sonhamos com isso !
Agora, não sejamos hipócristas. A crítica à ideologia do trabalho deve se fundamentar numa perspectiva não só realista, mas também prática. Primeiro, não devemos esperar que as pessoas, amanhã, deixem de ir trabalhar. Todos estão presos a essa lógica, dependemos dos nossos trabalhos pra sobreviver. Deixamos que as coisas chegassem a esse ponto, e para desconstruir isso demora milênios! Temos que procurar ganhar dinheiro sob outros princípios, voltados não para o atendimento dela mesma, mas sim das nossas reais necessidades, e não apenas das nossas vontades.
Entendeu agora o porque que o trabalho nos escraviza ? Ainda se choca quando eu falo que não gosto de trabalhar ?
"Arbeit macht frei", que traduzindo em português significa "o trabalho liberta", é a escrita que aparecia a entrada dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Essa dizia o contrário do que acontecia dentro dos campos de concentração. Em vez da liberdade, os judeus que lá se encontravam presos muitas vezes eram brutalmente assassinados.
Esses tempos já passaram, e hoje todos dizemos que o trabalho dignifica o homem. Mas isto não passa de um condicionamento psicológico que nos é imposto pela sociedade. Me pergunto: que sentido há em acordar todos os dias no mesmo horário para ir ao trabalho, satisfazer o interesse de outras pessoas, por causa de uns trocados que nos serve para comprar comida e bens materiais ? E a vida como fica ? Que tempo sobra para curtir o lazer ?
Eu a isso chamo escravidão. Uma escravidão moderna, psicológica, e muito mais eficaz. Porque o escravo verdadeiro não é aquele que está acorrentado, mas aquele que pensa que o seu proprietário o faz um favor e é incapaz de imaginar a liberdade. É deixar roubarem tua própria vida. É permitir com que sejas dominado pelo sistema social que nos impõe a viver para trabalhar, e não a trabalhar para viver.
Eu não quero apoiar a preguiça. O que quero é que entenda que também é um ser humano útil aquele que prefere dedicar-se a arte, a leitura, etc.
O trabalho deve conviver com a liberdade. Fazer o que o se gosta de fazer. Viver a própria vida. E não renunciar a própria vida, simplesmente para poder obter dinheiro.
Trabalhar é importante, mas não podemos nos deixar dominar psicologicamente. Devemos gostar de dinheiro sim. Mas não amar o dinheiro. Não se deixe dominar por ele.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Cabeça bem cheia não quer dizer cabeça bem feita
Há pessoas que têm menor bagagem cultural, mas têm uma inteligência mais madura e prática em comparação das que têm muita cultura.
Uma cabeça bem feita permite o melhor desenvolvimento das suas habilidades profissionais, intelectuais e emocionais. É uma cabeça apta para organizar os conhecimentos, fazendo uma seleção do que vale a pena aprender e reter este aprendizado.
O pensador e sociólogo francês Edgar Morin considera que a nova escola deveria estimular a todos uma formação para capacitá-los a ter o que ele chama de conhecimento pertinente.
Ou seja, uma conhecimento prático, eficaz, útil. Para ele, o conhecimento progride não tanto por sofisticação, formalização e abstração, mas, principalmente, pela capacidade de contextualizar e englobar.
"Na escola primária nos ensinam a isolar os objetos (de seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar.
Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo que causa desordens ou contradições em nosso entendimento.
Em tais condições, as mentes jovens perdem suas aptidões naturais para contextualizar os saberes e integrá-los em seus conjuntos"(Morin, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 19ª ed. Rio de Janeiro - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. p. 15).
Assim, para ele, temos dois tipos de reflexão hoje em dia, os cabeça-cheia e os que tem a cabeça-feita.
Os cabeça-cheia têm o saber pelo saber sem um critério de seleção e organizado que lhe dê sentido.
Os outros, os cabeça-feitas, por outro lado, têm uma inteligência geral mais abrangente em relação à vida, na sua busca em resolução dos seus problemas. Ou seja, uma cabeça bem feita, é diferente de uma cabeça bem cheia de conhecimentos teóricos sem relação direta com a vida.
Quando eu abro meu e-mail, ou acesso meu Facebook, na verdade, vejo o quanto minha cabeça anda mais cheia do que feita !
Sugiro foco em uma área do seu de interesse para o verdadeiro aprendizado. No meu caso estou focado em História e Teologia. Mas é importante também não perdermos a visão do todo, para não cairmos na mega-especialização.
O que diferencia os gênios das pessoas medianas não é a quantidade de conhecimentos que têm, mas sim a sua qualidade.
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